No tempo antigo, nas aldeias raianas, o sentimento religioso era muito vivo. e toda a Quaresma era tempo de contenção, seguindo-se, em absoluto respeito, as regras do Jejum e da Abstinência nos dias assinalados. Calavam-se os sinos, que eram substituídos pelas matracas. Interditavam-se os bailes e outras formas de divertimento, vestiam-se roupas escuras em sinal de dor, à noite e ao ar livre rezavam-se os martírios. E tudo era mais sentido na Semana Santa, ou «Semana Menor», que era a última da Quaresma, onde o rigor do calendário litúrgico e das regras de recolhimento eram acatadas com absoluto respeito.
Tudo mudava no sábado de Aleluia, quando à meia-noite os sinos repicavam sinalizando a alegria pela ressurreição do Salvador. No domingo de Páscoa as pessoas vestiam roupas garridas, iam à missa, onde os cantos alegres voltavam a fazer parte da liturgia, e comiam à tripa forra carne [cabrito ou borrego], filhós, rabanadas e muitos outros doces.
À Páscoa o povo também chamava a Festa das Flores, por ocorrer já no tempo primaveril, quando os campos começam a ficar garridos. Em algumas aldeias as ruas eram atapetadas de pétalas e das janelas caía uma constante chuva de flores sobre os andores que seguiam na procissão.
Era no dia de Páscoa que os padrinhos ofereciam o folar aos afilhados, consistindo num bolo rico em azeite e ovos e amêndoas, quando não em uma ou duas notas de conto. Também os párocos tinham o uso de «tirarem o folar», percorrendo as ruas da aldeia acompanhados por larga comitiva e entrando nas casas para as abençoar e colher as dádivas das famílias.
A globalização destruiu grande parte da tradição nas aldeias, mas a Páscoa ainda é uma das alturas do ano em que as aldeias se enchem de gente, ao acolherem os naturais que regressam para rever as famílias e reviver as tradições ancestrais. [Aqui]
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