terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ter vidas e vivê-las

«[...] O ser humano é tão minucioso e determinado na destruição como redentor e comovente na reconstrução. Como se nunca acabasse a vida de cada um, renascer é uma actividade que se pratica do nascimento à morte. Há até um último sopro de vida no doente antes de partir definitivamente. Como se, por uma ultima vez, nascesse.

O que a vida ensina é o paradoxo dela própria: não ficamos cá para sempre, mas podemos renascer mais vezes do que julgamos. O passar dos anos dá-nos luz para recomeçar, e a certeza de partir – e na combinação dessas duas energias, uma vida inteira para viver.

Nessa medida, a mudança de ano transporta essa carga simbólica, esse pequeníssimo renascer que nos vai ensinando a partir do zero – para quando mais tarde precisarmos. Porque vamos mesmo precisar. Devo ter sentido isso há dois dias, pela meia-noite. Sinto sempre, enquanto engulo as 12 passas e, modesto, peço três desejos. Nunca peço para recomeçar – porque já sei que vai acontecer.


Quem inventou a ideia de “termos vidas” nos jogos de vídeo, merecia o prémio Nobel da literatura. Porque não há expressão mais poética, verdadeira e triste do que na vida “termos vidas”. E no entanto, é tão bom poder tê-las».

Pedro Rolo Duarte

Crónica publicada na revista do "i", Nós, Optimistas

1 comentário:

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